Sinopse
2 de março de 2015
Críticas
2 de março de 2015

Textos

Filme noir

Textos

Desde o início de sua trajetória, há cinco anos, a Cia. Pequod vem procurando testar os limites de uma técnica específica do Teatro de Animação: a manipulação direta. Neste infindável trabalho de pesquisa, a aproximação com a linguagem cinematográfica sempre foi marcante, o que renovou de forma surpreendente esta modalidade teatral, sempre tão subestimada por preconceitos e rotulações. Foi assim com os espetáculos Sangue Bom (1999), Noite Feliz – Um Auto de Natal (2001) e O Velho da Horta (2002). E agora o grupo procura se superar em ousadia com Filme Noir.

O novo trabalho da Cia. Pequod é sua investida mais descaradamente inspirada no cinema. Filme Noir adapta para o Teatro de Bonecos o gênero genuinamente cinematográfico que lhe dá nome, experimentando todas as suas possibilidades no palco. Estão lá a mulher fatal, o detetive durão, a atmosfera de desilusão, a voz em off do narrador, os flashbacks e tantos outros elementos que caracterizam o cinema noir. Mas nada disso faria sentido se a montagem não fosse inteiramente em preto-e-branco, desafio que exigiu um longo estudo de figurino, cenografia e iluminação. Foi preciso até eliminar o amarelado natural do filamento das lâmpadas. A direção, por sua vez, teve tarefas complexas como reproduzir no teatro o efeito dos enquadramentos e movimentos de câmera observados no cinema. Não foram medidos esforços para a criação do visual mais adequado a uma trama policial ambientada nos anos 40, cheia de manipuladores e manipulados, cujo tema é, na verdade, a arte de trabalhar com bonecos no teatro.

Filme Noir é o primeiro espetáculo da Cia. Pequod a ter sido construído aos olhos do público. Aprovado pelo Fundo de Apoio ao Teatro (FATE) em novembro de 2003, o projeto participou do evento Porto dos Palcos no mês de janeiro de 2004, quando todo o seu levantamento teórico e o esboço de algumas cenas foram apresentados à platéia carioca. Logo em seguida, um estudo cênico posterior da peça viajou pelo Brasil, enquanto a companhia participava do Palco Giratório, realizado pelo SESC, com o espetáculo O Velho da Horta. Fechando o ciclo de ensaios, o estudo foi finalizado em outro projeto do SESC, as Quartas Cênicas, no Rio de Janeiro. Em todas estas oportunidades, o contato com os espectadores foi fundamental para o desenvolvimento do trabalho, o que reafirma a importância de iniciativas e incentivos como estes.

São o reconhecimento e o respeito do público que fortalecem a idéia de que é preciso arriscar sempre. E embora a inspiração de Filme Noir venha do cinema, do jazz, dos quadrinhos de Will Eisner e das fotos de Weegee, a Cia. Pequod faz Teatro acima de tudo. Bom espetáculo!

Miguel Vellinho, do programa do espetáculo

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