Textos
2 de março de 2015
Ficha técnica
2 de março de 2015

Críticas

Peer gynt

Críticas

Crítica do espetáculo PEER GYNT
JORNAL O GLOBO
Segundo Caderno
25 e novembro de 2006.

Uma adaptação de Ibsen que diverte e emociona
Peer Gynt: Cia PeQuod faz espetáculo de alta qualidade no Sérgio Porto
por Bárbara Heliodora

“Peer Gynt”, o irônico épico de Henrik Ibsen, raras vezes é visto no teatro, dada a complexidade de sua encenação. A história do irresponsável e aventureiro norueguês que vai prejudicando uns e outros pela vida, sem sequer se dar conta do que faz, é ao mesmo tempo risível, dolorosa e poética. Nessa figura, na verdade, Ibsen procurar retratar os muitos defeitos da sociedade norueguesa daquela época, que ele denunciou e combateu por toda a vida. Pois foi esse complexo texto que a Companhia PeQuod escolheu para sua nova produção, que encerra temporada hoje no Espaço Cultural Sérgio Porto.

Cenário inclui uma fantástica estrutura de pesos

Nesse “Peer Gynt” é realmente notável o uso sem distinção de atores, bonecos e objetos, que resulta em uma perfeita harmonia cênica. Carlos Alberto Nunes criou um cenário branco, uma grande cortina que, franzida em determinados pontos, compõe losangos suaves. Ele é responsável também pelos adereços, enquanto Kika de Medeiros criou os figurinos, igualmente brancos (a não ser por uma exceção) para os atores, coloridos para os bonecos. O segredo da harmonia, parece, está na manipulação dos bonecos pelos atores, que acaba por estabelecer uma igualdade íntima entre uns e outros.

Para atender às muitas exigências de “Peer Gynt”, o cenário inclui uma fantástica estrutura, aparentemente de pesos, dos quais saem, magicamente, personagens, o mar e vários adereços, sendo que os fios servem também para levantar atores e bonecos quando é necessário. A luz de Renato Machado é bonita e funcional, e a música/trilha de Maurício Durão colabora para criar o tom dos vários episódios – e só usa as Suítes Peer Gynt de Grieg na abertura e no fim.

O texto de Ibsen, inevitavelmente, não é apresentado na íntegra, mas está bem cortado, e a direção de Miguel Vellinho dá a medida do constante trabalho com atores e bonecos que é a assinatura do grupo: vozes, gestos e marcas de atores os deixam à vontade tanto entre si quanto com os expressivos bonecos feitos pelo próprio grupo.
O elenco é formado por Lílian Xavier, Maria Rego Barros, Mona Villardo, Mario Piragibe, Márcio Nascimento e Mardio Newlands, todos eles colaborando para a harmonia dos intérpretes e ainda manipulando a complexa estrutura de elementos que sobem e descem para se transformar das formas mais inesperadas.

“Peer Gynt”, na verdade, é um espetáculo de alta qualidade, que diverte e emociona, revelando mais uma vez inventividade e amor no trabalho que a Cia. PeQuod faz.

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