ESTREIA: NOVEMBRO DE 1999

LOCAL: TEATRO GLAUCIO GILL, RIO DE JANEIRO

ELENCO ATUAL: LILIANE XAVIER, MÁRCIO NASCIMENTO, MÁRCIO NEWLANDS, MARISE NOGUEIRA E MARIO PIRAGIBE

ELENCO ORIGINAL: ALZIRA ANDRADE, ANDRÉA RENCK REIS, MÁRCIO NASCIMENTO, MÁRCIO NEWLANDS E RAFAEL JAPHET

Numa época e lugar indefinidos, nasce a tragicômica história de amor entre um vampiro e uma bela jovem. Abandonada num castelo, ela demonstra tendências suicidas, enquanto ele amarga a maldição da vida eterna. Um caçador de vampiros completa o bizarro triângulo amoroso. Sem palavras, apenas com ação, o espetáculo faz uso de um humor ferino para falar de solidão, desilusão, amor, perdas e danos, misturando referências do desenho animado, dos filmes de terror e da literatura gótica. A montagem procura reproduzir no palco os efeitos de enquadramento, edição e movimentação de câmera característicos do cinema, além do nonsense e das gags típicas dos filmes de animação.

SANGUE BOM é o resultado de um estudo das possibilidades da animação de bonecos, através da manipulação direta, sem fios ou varas. Buscando transpor a linguagem do Cinema e do Desenho Animado para a encenação, a montagem procurou reproduzir feitos típicos destas duas linguagens: closes, panorâmicas, travellings da primeira; e claros-escuros, nonsense e gags recorrentes da segunda, por exemplo. Tudo isto para contar uma história de uma hora, sem palavras.

Os vampiros surgiram, no trabalho, numa etapa posterior, como um simples tema para variações. A idéia caiu como uma luva e parece, agora, que não haveria nada melhor do que este tipo tão rico em possibilidades cênicas, misterioso, que pode voar e transmutar-se, para contar uma singela história de um amor impossível. Junto ao personagem central surgiram os outros dois personagens que formam o clássico triângulo amoroso de SANGUE BOM: uma mulher abandonada e um caçador de vampiros. Para cada personagem – e cada boneco – estabelecemos uma cartilha gestual, com movimentações próprias, marcadas e elaboradas como uma coreografia.

SANGUE BOM veio sendo preparado, em um ano inteiro de ensaios, como se fosse filme. Depois de todas as cenas prontas, partimos para a edição, a sonorização e o corte final, chegando a eliminar quadros que, somados, triplicariam o tempo do espetáculo. A vantagem do teatro sobre o Cinema, porém, é que, chegados à forma final do espetáculo, ainda podemos continuar a modificá-lo e corrigi-lo eternamente.
Como convém a um vampiro.

Miguel Vellinho, texto do programa da peça

Crítica do espetáculo SANGUE BOM
JORNAL DO BRASIL
Caderno B
1o. de dezembro de 1999.

Sempre muito bom
Lucia Cerrone

O Sobrevento, completando 13 anos de existência com parte do grupo radicado agora em São Paulo, trouxe ao Rio este ano pelo menos duas grandes produções: Cadê meu herói? e Sangue Bom, este último em temporada no Teatro Gláucio Gill. E se em Cadê meu herói? estava em cena uma nova técnica aperfeiçoada pelo grupo, a luva chinesa, confeccionada por um mamulengueiro de Pernambuco, o Mestre Saúba, em sangue Bom o grupo volta às origens na manipulação direta da técnica japonesa (Bunraku), a mesma usada em Mozart Moments, carro-chefe do Sobrevento, desde 1991. Dessa vez, a volta à velha fórmula traz ao palco novidades muito bem-vindas.

Miguel Vellinho, em sua primeira direção, concebeu um espetáculo em takes cinematográficos de extrema agilidade cênica, sem se descuidar da plasticidade. Os manipuladores em trajes negros. Tão comuns nesse tipo de manipulação, foram trocados por personagens bem caracterizados para a época escolhida, fazendo da sua performance uma extensão do boneco. Com três manipuladores para cada títere, o movimento quase humano dos pequenos “atores” de madeira, tecido e látex conta a história em trama tragicômica.

No imenso palco vazio, ao som de uma trilha musical dramática, chegam os carregadores do porto trazendo caixotes de madeira de diversas dimensões. Quase por mágica, esses caixotes se abrem mostrando diferentes ambientes de um castelo: salas suntuosas com colunas de mármore, quartos de dormir com paredes de pedra, torres e porta de entrada sinistra. Os planos não obedecem à linguagem linear de uma casa e são usados como ambientação diferente para cada take. Em cena, uma entediada suicida encontra no seu Drácula um par perfeito para a vida eterna. Atrapalhando o casal, um galã canastrão caçador de vampiros.

Além da história contada, o espetáculo insere no enredo a própria história do teatro dos bonecos, que mistura doses de humor com secular crueldade. Lembranças das porretadas que o Sr. Punch dava na Sra. Judy, o simpático casal que se tornou um símbolo do teatro dos títeres, chega aqui com final quase trágico, ligado a amor, morte e esquartejamento. Tudo muito natural e risível.

Com ambientação perfeita e rica em detalhes luxuosos que caracterizam o gótico nos filmes de terror, o espetáculo tem grande força ainda na iluminação de Renato Machado, que cria pequenos focos para cenas mais intimistas, chegando quase ao close e ampliando raios e trovões no palco inteiro, ao sabor da estética Roger Corman para os filmes de Boris Karloff.

Sangue Bom é um espetáculo cheio de recursos e truques que vem encantando a jovem platéia. Mais que isso, é o teatro de bonecos que, enfim, deixa a carreira de festivais para ganhar temporada regular nos teatros.

Direção: Miguel Vellinho
Elenco: Liliane Xavier, Marise Nogueira, Márcio Newlands, Márcio Nascimento e Mário Piragibe
Figurinos: Maurício Carneiro
Iluminação: Renato Machado
Cenografia: Andréa Renck e Miguel Vellinho
Trilha Sonora: André Luiz
Esculturas: Gabriela Bardy
Assistência de figurino: Alzira Andrade
Assistência de cenografia: Márcio Newlands
Confecção de bonecos e adereços: Andréa Renck, Gabriela Bardy, Márcio Newlands e Miguel Vellinho
Fotografias: Simone Rodrigues
Realização: Cia Pequod Teatro de Animação

Público-alvo: adolescente e adulto.
Espaço: Teatros tradicionais. A relação com a platéia deve ser sempre, frontal.
Dimensões mínimas do palco: 6m de boca-de-cena, 6m de profundidade e 4,5m de altura.
Duração do espetáculo: Ato único com cerca de 1h.
Tempo de montagem: Cerca de 8h.
Tempo de desmontagem: Cerca de 2h.

Necessidades Técnicas:
O espetáculo requer rotunda e penas laterais pretas;
São necessárias 03 torres de balé
Pessoal de apoio à montagem: 01 eletricista e 01 ajudante
Equipamento de luz:
mesa de 48 canais com 04 kws por canal, 09 refletores PCs 1000w/220v, 15 refletores elipsoidais
1000w/220v, 14 Peam Beans, 10 Par Foco 2
1000w/110v (seriadas), 2 Par foco 1 1000w/110v
(seriadas), 2 Par Foco 5 1000v/110v (seriadas)
e 01 Set-light 1000w/220v, fiações e extensões.
Equipamento de som:
amplificador, caixas, mesa com 12 canais e 03 aparelhos de
CD que serão mixados durante o espetáculo. A potência do equipamento deve estar adequada às características do local
da apresentação.

Transporte do cenário:
o cenário pode ser levado em um caminhão-baú pequeno,
com cerca de 45 min de tempo para carga e descarga

Elenco:
05 atores-manipuladores, 01 operador de luz, 01 operador de som. Podem ser acomodados em 02 quartos duplos e 01 quarto triplo.

Considerações importantes:
Solicitamos à produção local um saco de cinco quilos de terra
SECA E ESCURA, dois tubos pequenos de pólvora, máquina de fumaça e glicerina. – Havendo mais de uma apresentação, ao término da mesma o palco deverá ser varrido e limpo para a próxima sessão.

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